por Raíza Goi Borba
Elas vinham do
interior para estudar na “cidade grande”. Pela frente um desafio: encontrar um
imóvel para alugar. A tarefa não foi fácil, Amanda e Daniela, juntamente com
seus pais procuraram em vários lugares, até que encontraram o Condomínio Bela
Vista. Lá havia somente um apartamento disponível, era o 301, no bloco oito.
Parecia a melhor escolha, o apartamento era claro, arejado e havia sido
reformado recentemente. As meninas, que então ingressariam na faculdade, não
entendiam o motivo pelo qual ninguém o alugava.
Mudança feita. O local
era grande, com uma sala ampla, cozinha, banheiro e três quartos, um deles
maior do que os demais. Amanda e Daniela estavam bem instaladas, afinal, para
duas jovens o apartamento estava ótimo. Além disso, os vizinhos eram legais e o
condomínio, seguro.
Daniela era
comprometida. Seu namorado continuaria morando no interior e eles seguiriam com
o relacionamento à distância. Inevitavelmente, o par da garota tinha medo de
que Daniela se interessasse por uma pessoa da cidade e o esquecesse.
Iniciaram as aulas e a
rotina das garotas era parecida: saiam de casa pela manhã para trabalhar,
voltavam a tardinha e se arrumavam para ir até a faculdade. Daniela não tinha
aula nas segundas e quartas-feiras, então, passava essas noites sozinha no
apartamento. Sua distração era navegar na internet, olhar televisão e escutar
música, até o sono aparecer e ela ir deitar. Porém, com o passar do tempo, as
distrações de Daniela passaram a ser outras. A menina simplesmente não
conseguia mais dormir de preocupação. Coisas estranhas estavam acontecendo no
apartamento 301 do bloco 8.
Daniela ocupava o
quarto maior. Em uma das noites que estava sozinha as venezianas da janela de
seu quarto simplesmente se fecharam. Em função do barulho causado, a garota foi
até o local ver o que havia acontecido. Ao entrar, a porta se fechou numa
grande batida. Não tinha vento e nem outro fator que pudesse explicar o que
estava acontecendo. A menina não conseguia sair de lá e o pânico tomou conta de
sua mente. De tanto chorar, Daniela pegou no sono. Em seus sonhos, imagens do
pátio do Condomínio com crianças pulando corda alegremente.
Pela manhã, Daniela
acorda com um raio de sol em seu rosto, a janela estava aberta e a porta
também. O que aconteceu? No que pensar?
- Acorda Amanda!
Preciso te contar o que aconteceu comigo essa noite.
Amanda ouviu o que
Daniela tinha pra contar, porém, não acreditou em uma só letra. Disse pra ela
não se preocupar, pois tudo não passara de um pesadelo. Daniela tentou, mas não
conseguiu se acalmar, passou o dia todo tentando entender seu sonho. Qual era o
significado daquelas crianças pulando corda?
Esta
não foi a única vez que coisas estranhas aconteceram com a garota. Os dias em
que Daniela não tinha aula passaram a ser uma tortura. As chaves saiam das
fechaduras, os aparelhos eletrônicos paravam de funcionar, as lâmpadas
estouravam constantemente. Porém, ninguém acreditava na menina. Seus amigos e
seus pais achavam que era paranoia e até cogitaram a hipótese de levá-la para
fazer um tratamento psicológico.
Além
da preocupação, outro sentimento ocupava o coração de Daniela: o amor. Mas não
era o amor pelo seu namorado do interior. A garota havia se apaixonado por um
colega de aula, que a tratava bem e preenchia o vazio de seu coração quando seu
namorado não estava.
Tentando entender
porque coisas estranhas aconteciam enquanto estava sozinha no apartamento 301,
Daniela buscou ajuda. Primeiro, entrou em contato com a imobiliária para saber
o nome e o endereço do proprietário do apartamento. Era a senhora Iolanda
Prestes.
Com o pretexto
conversar sobre possíveis ajustes que deveriam ser feitos, Daniela foi até a
casa de Iolanda. Durante o diálogo, a garota percebeu que algo incomodava a
senhora. Depois de muita conversa, a menina tomou coragem, e perguntou: O que a
fez sair do apartamento?
Iolanda estufou o
peito e respondeu:
- Minha filha, eu
tinha uma família linda, dois filhos educados e um marido muito especial, que
me amava acima de tudo. Me arrependo muito do que fiz.
Com os olhos
lacrimejando, a senhora continuou:
- Me apaixonei por
outra pessoa enquanto eu era casada. Mantive um relacionamento com este meu
“amante” por um longo tempo, mas eu precisava continuar com o meu marido. Não
podia me separar, não podia deixar as crianças tristes.
Dona Iolanda contou
para Daniela a história mais triste de sua vida. Ao chegar no apartamento 301
após um dia de trabalho, a senhora deparou-se com seu marido morto no maior
quarto. Ele havia se enforcado com a corda que as crianças brincavam de pular.
Em uma carta deixada, o marido explicou o motivo do suicídio: ele havia
descoberto que Iolanda o traía.
“Enquanto eu te amava
acima de tudo, você vinha me matando com sua traição.”
A garota então
descobriu o motivo de suas perturbações: assim como Dona Iolanda, Daniela
também estava traindo um amor verdadeiro.
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